terça-feira, 25 de agosto de 2009

Quando a Espanha sangrou

Nesse ano se completam 70 anos do fim da Guerra Civil Espanhola. Assunto que sempre me despertou bastante interesse, seja por sua aura romântica - típica de um período marcado pelo embate de ideologias - seja pela dimensão internacionalista que ela ganhou desde o seu início; guerra esta, que acabou por arrebanhar combatentes e corações de diferentes partes do mundo, tanto de um lado do conflito como do outro. O conflito se iniciou com o malogrado golpe, ou pronunciamiento, de 17 de julho de 1936, onde setores amotinados do Exército se rebelaram contra uma República democraticamente eleita, com um forte apelo popular, que tentou implementar medidas como a reforma agrária, a separação do estado da Igreja, as reforma educacional e trabalhista. Os militares rebeldes liderados pelo generalíssimo, Francisco Franco, empreenderam o que eles próprios chamaram de uma grande cruzada (com toda a carga simbólica e histórica que tal palavra nos trás), para defender os valores de uma suposta hispanidade contra o "mal comunista".
Com o fracasso do golpe militar, porém, se iniciou uma cruel guerra civil que se arrastaria por mais 3 anos, dividindo o país e ceifando centenas de milhares de vidas. O conflito, grosso modo, opôs uma Espanha tradicionalista, com fortes ligações com a religião católica e saudosa de um passado glorioso de conquistas e opulência; com uma Espanha tida como progressista e/ou revolucionária (nesse campo com diferentes interesses e grupos em disputa, como liberais antifascistas, anarquistas, comunistas, socialistas).
Esse grande conflito é muito lembrado como, "a última grande causa da humanidade"; o que apenas denota toda a carga emocional e as paixões que despertou e mobilizou e que sem dúvida, continua mobilizando. Ou seja, duas concepções totalmente antagônicas de mundo se chocaram, numa guerra de ódio, em que aqueles valores mais caros, conquistados à duras custas por um República progressista e democrática, estavam agora em jogo com o golpe militar de Franco. Mas então não era apenas uma questão política espanhola, era muito mais do que isso. Era um conflito de ideias, de sonhos, de interesses geopolíticos que mobilizavam a Europa e o mundo. E assim, a Espanha se colocava como mais um importante ator, no grande front da acirrada luta entre os ideais nazi-fascistas - que pululavam pela Europa - e as correntes anti-fascistas (que em alguns países formaram a Frente Popular), que tinham como fim, frear a ascensão de governos de caráter pró fascistas. Estes, no entanto, congregavam uma infinidade de ideias e correntes políticas (que de outra forma jamais se uniriam), que não eram mais do que uma grande salada de ideologias; onde muitas vezes, só havia em comum a luta contra as forças nazi-fascistas (exemplo disso, são as violentas lutas intestinas ocorridas entre comunistas e anarquistas no decorrer da sangrenta guerra). Mais tarde as diferenças acabaram falando mais alto, e o que era para ser uma luta unida contra as forças franquistas, transformou-se simultâneamente, num triste embate entre os próprios defensores da República.
Enfim, para os contemporâneos dessa guerra, para aqueles que de diferentes países abraçaram com obstinação a causa da República e pegaram em armas; a Espanha representava, acima de tudo, a luta pela sobrevivência da própria humanidade, a luta em nome de valores como a liberdade e a justiça. E a derrota representava, não apenas a derrota dos republicanos espanhóis, mas também, a derrota de todos aqueles, independente do país, que acreditavam e lutavam pelos ideais defendidos por aquela fugaz República, covardemente atacada.

Pretendo continuar a escrever sobre o assunto, numa série de posts (que inauguro com este), onde a intenção é falar sobre questões pontuais como personagens marcantes e episódios relevantes ou curiosos desse momento tão marcante para a história da Espanha e do mundo. Esperem os próximos capítulos.

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